Assistido por Serra, Aécio fala como ‘presidenciável’

Dois meses depois de sua posse, Aécio Neves (PSDB-MG) escalou a tribuna do Senado para pronunciar seu discurso inaugural.

Inaugurou mais do que o mandato de senador. Abriu a picada rumo a 2014. Cortou, por assim dizer, a fita de sua candidatura presidencial.

Aécio começou a falar por volta das 15h30. Discursou por 24 minutos. Mas só desceu da tribuna dali a quase cinco horas, às 20h22.

No comando da sessão, José Sarney tentou dar início à “ordem do dia” nas pegadas do discurso de Aécio. Não conseguiu.

Senadores de diferentes partidos, os petistas à frente, rogaram pelo desrespeito ao regimento. Faziam questão de apartear o orador. Sarney aquiesceu.

Além de 74 senadores, acorreram ao plenário algo como três dezenas de deputados e vários prefeitos mineiros.

Lá estava também um político sem mandato: o grão-tucano José Serra, inimigo cordial de Aécio na política interna do tucanato.

Presidenciável derrotado em 2002 e 2010, Serra testemunhou o soerguimento de uma barreira à sua pretensão de realizar nova tentativa em 2014.

Aécio obteve mais do que planejara. Até os governistas o festejaram como o líder da oposição. Ficou a sensação de que a fila do PSDB andou.

O discurso de Aécio foi dividido em três partes. Numa, o passado. Noutra, o presente. No pedaço derradeiro, o futuro.

Dono de personalidade acomodatícia, Aécio reafirmou sua principal característica: “Homem do diálogo”.

Vai ao “enfrentamento” com disposição para encontrar “oportunidades de convergência”. No dizer o orador, “brigam as ideias e não os homens”.

Para vergastar o PT, Aécio criou uma fórmula. Enquadrou momentos históricos numa equação dicotônica: “Nós estávamos lá, nossos adversários não”.

Recordou que o PT não estava entre os que votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, não estava ajudou a prover governabilidade a Itamar Franco no pós-Collor...

...Votou contra o Plano Real, disse "não" à Lei de Responsabilidade Fiscal, às privatizações e ao Proer.

“Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT”, espinafrou.

Em contraposição ao bordão de Lula ‘Nunca Antes na Hitória Dessa País’ da Silva, Aécio disse: “O país não nasceu ontem”.

“O Brasil de hoje”, afirmou o senador, “é resultado de uma vigorosa construção coletiva”. Algo que, acredita, a historiografia registrará:

“A independência dos historiadores considerará os governos Itamar, Fernando Henrique e Lula um só período da história do Brasil, de estabilidade com crescimento, sem rupturas”.

Depois de enaltecer os “méritos” de Itamar e FHC, reconheceu os “avanços” obtidos sob Lula. Citou dois:

1. “A manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores é, a meu ver, o primeiro e o mais importante mérito”.

2. “E é necessário reconhecer que o adensamento e ampliação das políticas sociais, foram fundamentais para que o Brasil avançasse mais”.

Ocupou-se, então, de Dilma Rousseff, o presente. Ligou-a a Lula: É “o início do 9º ano de um mesmo governo. Quase uma década”.

Nesse trecho, porém, realçou o que, a seu juízo, compõe a herança negativa da gestão anterior.

“O Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política –apoiada por farta e difusa propaganda oficial— não se confirma na realidade”, disse.

Enfileirou características do "Brasil real": “desarranjo fiscal”, “grave risco de desindustrialização”, “farra da gastança descontrolada”...

...”Crônica e grave doença da inflação”, as deficiências de infraestrutura e a “carga tributária de 35% do PIB”.

No trecho final do discurso, Aécio listou “idéias” que, segundo disse, submeterá ao exame do Senado.

Citou, por exemplo: “redução a zero das alíquotas de PIS e Cofins das empresas de saneamento”...

“...Transferência gradual dos recursos e da gestão das rodovias federais para a competência dos Estados”.

...Distribuição de “70% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança e do Fundo Penitenciário” para os Estados...

...”Revisão da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa”, desoneração de mocroempresas, exportadores e da folha salarial...

Nos apartes, senadores do PT contraditaram Aécio. Os mais eloqüentes foram Gleise Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE) e Lindberg Farias (RJ). Porém...

Porém, mesmo os petistas enalteceram o estilo de Aécio. Próximo a Serra, o líder petista Humberto Costa, referiu-se ao orador como "o melhor quadro da oposição".

Algo que, disse Humberto a Aécio, não o autorizava a ser "injusto" com o PT. Propôs que se fizesse um debate sobre "que Brasil é o Brasil do PT e que Brasil é o Brasil do PSDB".

Último senador a ocupar o microfone de apartes, Jayme Campos (DEM-MT) disse que verá “Aécio subir a rampa do Palácio do Planalto”.

Aécio riu. José Serra decerto torceria o nariz. Mas já não estava em plenário. Batera em retirada. Encontrava-se num salão que fica defronte.

Instado a comentar o que ouvira, Serra disse que Aécio fez "um bom discurso". 2014? "É muito cedo".

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