Lucas Mendes, de Nova York para a BBC Brasil
As armas e o bullying matam no Brasil. São as duas explicações da tragédia de Realengo na imprensa americana.
Um texto com vírgulas mal empregadas mata mais de mil e duzentos americanos por mês nos Estados Unidos.
Juízes conservadores, em geral republicanos, interpretam a segunda emenda da Constituição, com sua estranha pontuação, como um direito de todo cidadão comprar e ter armas em casa.
Juízes liberais, em geral democratas, fazem interpretações diferentes e votam contra porte e venda de armas. Os assassinatos de Bob Kennedy e Martin Luther King em 68 provocaram aprovação de algumas destas leis.
Antes de ir adiante, aqui está o texto da Segunda Emenda e uma tradução: "A well regulated Militia, being necessary to the security of a free State, the right of the people to keep and bear Arms, shall not be infringed".
Tradução: "Uma milícia bem regulamentada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito do povo de ter e portar armas, não deve ser infringido”.
Os redatores da Constituição e das emendas sabiam ler e escrever. Entre eles havia alguns jecas, mas lá estava a fina flor intelectual das colônias, gente fluente em latim e línguas vivas.
Como aprovaram um texto tão ambíguo? E hoje, quem justifica os malucos radicais como “Milícia bem regulamentada?”
Bill Clinton conseguiu aprovar duas leis em 1994, uma que limitava a venda de certos tipos de rifles automáticos usados em combates pelos militares, e um sistema nacional para verificar o currículo do comprador de armas.
Os lobistas das armas reagiram com dólares, engrossaram o calibre e mobilizaram suas milícias a favor de George W. Bush contra Al Gore, suspeito de ser contra venda e porte de armas. Ganharam a batalha.
Os juízes nomeados pelo presidente Bush corresponderam às expectativas dos armamentistas e deram a eles duas vitórias massacrantes. Nem os estados nem as cidades podem criar leis limitando portes de armas.
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