FILINTO MILLER - O NAZI-FACISTA

Sebastião Nery

Presidente da Câmara dos Deputados, Paes de Andrade foi à Alemanha
participar de uma celebração internacional sobre o fim da Segunda Guerra
Mundial.
Sentado ao lado do embaixador do Brasil, estava em um banquete, em
Bonn, oferecido pelo parlamento alemão, quando um secretário aproximou-se do
embaixador e lhe cochichou uma notícia ao ouvido.
O embaixador ficou perplexo, excitado e feliz. Pegou a taça de vinho, fez um
brinde ao infinito, sorriu e não disse nada. Paes percebeu o estranho gesto, ficou
curioso, perguntou o que tinha havido.
"Nada demais, deputado. Só uma boa notícia. O Filinto Miller acaba de
morrer, em Paris, em um desastre de avião. Morreu como devia ter morrido: o
avião se transformou numa câmara de gás. Os assassinos públicos devem
mesmo morrer em câmaras de gás, como cães danados."
* * *
Paes, cearense, ex-seminarista e cristão de alma generosa, que tinha se
encontrado com Filinto, senador, na véspera, em Brasília, no Congresso, levou
um susto:
"Por que esse ódio todo, embaixador?"
O embaixador respirou fundo, tossiu, bebeu um gole de vinho:
"Ele torturou meu pai. Os verdugos de todos os tempos são iguais. Mais dia
menos dia acabam pagando por seus crimes."
E tomou gostosamente mais um gole, bebendo o gás de Filinto. Do outro lado
da taça do embaixador, estavam as taças de milhares de brasileiros que
gostariam de fazer aquele silencioso e dramático brinde.
O senador Sergio Cabral, do PMDB do Rio, comprou uma briga no Senado,
em discurso, esta semana. Apresentou um projeto retirando o nome de Filinto de
uma das alas de gabinetes do Senado, que presidiu de 73 a 75.
Filinto foi delegado especial de Segurança Pública do Rio, chefe de polícia
interino e depois efetivo, de 1933 a 42, quando milhares de pessoas foram
presas, a maioria barbaramente espancada ou torturada.
Foi Filinto quem comandou a prisão de Olga Benario, mulher de Luiz Carlos
Prestes, e seus brutais padecimentos na cadeia, dirigiu sua condenação pela
unanimidade do Tribunal de Segurança Nacional e executou sua deportação,
assinada por Getulio e pelo ministro da Justiça Vicente Rao, para um campo de
concentração nazista, na Alemanha de Hitler, onde morreu em 42 numa câmara
de gás.
Nesta semana, quando chega aos cinemas o filme de Jayme Monjardim,
"Olga", baseado no histórico livro de Fernando de Moraes, a retirada do nome do
verdugo público Filinto Muller dos corredores democráticos do Senado Federal
fica ainda mais atual e urgente.
Sebastião Nery é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário