Sabiaguaba - A ponte que não leva a lugar nenhum


Por Souto Filho
soutofilho@oestadoce.com.br

Mesmo após sete meses de sua inauguração, a ponte sobre o Rio Cocó, também conhecida como Ponte da Sabiaguaba, vem apresentando problemas e deixando a população da região apreensiva quanto à segurança do local e sua real utilização. Relatos de assaltos são constantes e muitos moradores reclamam que o empreendimento não possui “serventia” nenhuma para os usuários, que viram a avenida Manoel de Castro (a famosa Estrada da Sabiaguaba), deteriorar-se, transformando-se no principal habitat de bandidos que atuam no local.

A ponte, que demorou cerca de nove anos para ser concluída, tem o objetivo teórico de encurtar a distância entre as praias do litoral leste cearense, ligando a avenida Dioguinho, no bairro Caça e Pesca, à praia da Sabiaguaba. Entretanto, a construção de 325 metros de extensão “desagua” em uma via de péssimas condições (av. Manoel Castro) que inviabiliza o trajeto e torna o investimento de R$ 9,7 milhões sem utilidade para os motoristas e moradores de seu entorno.
“Achamos que a ponte seria muito importante para nós, mas, depois de sua conclusão, vi que a coisa não era bem assim. Com o fim da obra, as autoridades não se preocuparam em qualificar as vias do lado da Sabiaguaba. Depois da ponte, a situação ficou ainda pior. A Manoel de Castro [avenida] foi completamente destruída, sendo quase impossível trafegar por ela, principalmente quando chove”, lamentou a comerciante Maria da Paz, proprietária de uma barraca de praia, na Sabiaguaba.

Quem trafega pela ponte sobre o Rio Cocó, sentido oeste/leste, ao final da via, vai desembocar na avenida Manoel de Castro, tendo que seguir, obrigatoriamente, à direita ou à esquerda. Porém, para ambos os lados, a via apresenta buracos, falta de asfalto e nenhuma sinalização. O pouco policiamento também é sentido pelos motoristas, que são forçados a trafegar com pouca velocidade, em terrenos sem acostamento e tomado pelas areias das dunas localizadas ao lado da avenida.

MAIS UMA VÍTIMA
O estudante Getúlio de Sousa Silva, que mora em frente a um dos principais pontos críticos da Estrada da Sabiaguaba, disse que os assaltos a motoristas são rotineiros, inclusive, à luz do dia. Segundo ele, os marginais costumam sair das laterais da via, coberta por vegetação intensa, e atacar os carros sem dar chance de defesa a quem transita por ali. “Minha mãe foi vítima de um assalto na semana passado. Perto daqui de casa, cerca de quatro ‘vagabundos’ cercaram o carro quando ela diminuiu a velocidade por causa dos buracos e levaram tudo que ela tinha no veículo”, contou.

Quem utiliza a via para ganhar dinheiro também está sendo prejudicado pela violência. O mototaxista José Aldo Araújo ressaltou que já perdeu vários clientes que se recusaram a passar pelo local. Ele mesmo já foi alvo dos bandidos e revelou que prefere pegar caminhos mais longos, a passar pela avenida deteriorada. “A coisa está horrível. Essa ponte só fez a situação da Sabiaguaba piorar”.

RONDA TRABALHANDO
Apesar das reclamações dos moradores, o comandante do Ronda do Quarteirão, coronel Gomes Filho, explicou que as operações na região são executadas 24 horas por dia, com uma viatura apenas na Sabiaguaba. Entretanto, ele concordou que a área é extremamente perigosa e a geografia do local dificulta a ação dos policiais. De acordo com ele, a corporação está fazendo um plano de redirecionamento operacional em todos os bairros anexos a Messejana para que o problema seja amenizado.

“Historicamente, a região da Sabiaguaba é bem complexa. Sabemos da grande demanda de insegurança do local, mas devido a sua geografia, as ações policiais são dificultadas. Mesmo assim, estamos realizando várias prisões no local e garanto que a ação do Ronda está sendo realizada de forma ostensiva”, explicou ele, salientando que a falta de políticas públicas é um dos obstáculos que impede a melhor abrangência policial na região.

O coronel Gomes ressaltou ainda que a falta de terrenos habitados e a existência de várias áreas de mangue fazem com que o local seja considerado de risco para a população. Entretanto, ele salientou que a população deve procurar o Ronda do Quarteirão para denunciar os crimes e ajudar a polícia no combate à criminalidade. “Ali é uma área de pequenos furtos que gera uma insegurança subjetiva na comunidade. A nossa ideia é manter a proximidade com a população”, pontuou.

DEBATE COM A POPULAÇÃO
Os problemas relacionados à ponte da Sabiaguaba e seu entorno serão tema de várias audiências públicas requeridas pela Comissão de Viação, Transporte e Desenvolvimento Urbano da Assembleia Legislativa do Estado. O deputado estadual Heitor Férrer (PDT), presidente da comissão, relatou que o verdadeiro objetivo da construção da ponte deve ser discutido entre a população local e representantes dos governos federal, estadual e municipal.

Para o parlamentar, a obra deveria ser um instrumento para alavancar o turismo da região, mas, na verdade, está afastando os visitantes das praias da Sabiaguaba. “Além de um ‘elefante branco’, a ponte está se tornando uma ‘onça pintada’ para os motoristas que trafegam por ali, já que o local não possui segurança nenhuma”, destacou ele.

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