A conversa da Mirian Leitão com a turma dela...eu entrou ai de gaiato


Enviado por Míriam Leitão - 28.11.2010 | 9h40m
Parte do Rio tenta tocar sua rotina no domingo decisivo
Na orla do Leblon, Ipanema, Copacabana tudo parece quase normal. É o que verifiquei na minha caminhada por Leblon, Ipanema, Copacabana num domingo que começou com sol e o tempo já começa a nublar. O assunto possível é um só: o Alemão.

Ontem fui dormir quando já era hoje. A uma da manhã. Os meninos do @vozdacomunidade avisava no tuitar que se ouvia muitoooo tiro. Acordei às seis. No Globo Online e no Voz a informação era que a invasão não tinha começado. Demorei um pouco a sair de casa, mas às sete e meia já estava na praia, naquele comecinho do Leblon onde está a estátua do Zózimo. Saudade do Zózimo. "Nada mais será surpresa", pensei, lembrando dele.

Mas havia uma surpresa. Pensei que a praia estaria vazia e estava na maior agitação com um grupo de corredores fazendo seu dia. Agrupavam-se, aqueciam-se, animavam-se sob o comando do som. Resolvi ouvir minha música, escolhi internacional.

O dia está lindo, aberto, mar azul. Passei por uma criança branca com sua babá negra. Depois por uma criança e mãe negras. Perto da água pouca gente ainda, brancos e negros se misturando. Mas há muito perdi a ingenuidade e sei das partições dessa suposta democracia das praias.

Na orla caminho passando pelos corredores a minutos da largada. Sempre quis correr. Não sei. Ando rápido, apenas. Cruzo com uma moça simpática que me diz coisas de aquecer o coração sobre o meu trabalho, ando mais rápida, animada. O lixeiro me dá um sorriso de alegrar ainda mais a vida. Retribuo.

A largada começa. Eu ando rápida na parte da calçada onde ficam os andadores, crianças com suas babás, velhinhos com suas artrites e apenas caminhadores. Os corredores ficam na pista que nos dias normais é dos carros. As bicicletas dividem a pista delas com os skates. Tudo normal demais para um dia tão anormal. "Nos vamos estar juntos" canta a música no meu ouvido.

Tem um pouco menos de gente do que o normal, mas os corredores tratam de suprir a falta dos faltantes. E são tantos aglomerados ali no caminho do arpoador, que viro, passo perto do Fasano, e entro pela rua lateral no caminho de Copacabana. Na esquina entre Joaquim Nabuco e Nossa Senhora de Copacabana uma aglomeração olha fixo para dentro de uma farmácia. É a TV ligada na Globonews contando que tudo pode começar a qualquer momento. Vou para a Avenida Artlântica retomar a caminhada. Esbarro sem querer num velhinho atravessando a rua, peço desculpas. Em retorno recebo um carinho no braço e um sorriso. Na orla mais corredores. Eles nunca se cansam? Resolvo ficar do lado de cá a avenida, na calçada dos prédios.

-Bom Dia! Diz enfático um porteiro do prédio

Velhos sentam nos bancos, bebês e babás passam. Jovens desfiam sua beleza. Eu apresso o passo para compensar o cuidado nas travessias das ruas, Na Figueiredo de Magalhães decido entrar em Copabana atrás de um taxi. Outro grupo em frentem um bar, com um já com cerveja. Todos olhos vidrados para dentro, A TV com a manchete: Começou a invasão do Alemão.

Peguei o terceiro taxi que passou. Sorte. Ele estava com a TV ligada na Globonews, Márcio Gomes dando as últimas notícias e o motorista completa.

-Lá tá muito cheio de gente, mas as ruas estão mais vazias do que o normal.

-Mas voce tem ido lá?

-Estou lá o tempo todo. Estou com um grupo de jornalistas de Porto Alegre, da Zero Hora. Ontem fiquei lá o dia inteiro. O que a imprensa chama de tiroteio, eu chamo de tiro a esmo. Quando o helicóptero passa eles atiram. A comunidade está muito tensa. Eu deixei os jornalistas lá cedinho. Agora vim aqui para comprar um remédio para minha esposa e voltar para lá. Só te peguei porque a farmácia abre as nove. A gente tem esperança, mas é difícil. Muito cheio de ruela lá, os bandidos é que conhecem o terreno.

Pergunto que se ele já viveu algum episódio de violência. Levou um tiro há quatro anos. Estava conversando com policiais e bandidos passaram atirando. Ele recebeu um na tíbia, outro no abdomen. Mas se salvou.

-Não fiquei com sequelas, mas as cicatrizes são feias. Chato, por que eu não tinha marca nenhuma.

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