Ventos incomodam cearenses


Por Souto Filho
soutofilho@oestadoce.com.br

Rajadas de vento que podem chegar a 70 quilômetros por hora. Isso é o que os cearenses estão experimentando nas cidades do litoral e no interior do Estado desde o começo do mês de agosto. A brisa que refresca, algumas vezes, pode transformar-se em ventos que causam danos e prejuízos aos órgãos governamentais e à população. No último mês, por exemplo, três alimentadores da Companhia Energética do Ceará (Coelce) foram danificados, deixando cerca de 20 mil pessoas sem energia, quando galhos de árvores e placas de publicidade foram derrubadas pelos fortes ventos nas redes elétricas.

De acordo com a engenheira de manutenção da Coelce, Socorro Pontes, os principais locais atingidos são o Centro da cidade e redes elétricas localizadas próximas a construções. Por outro lado, apesar dos problemas com o abastecimento, a engenheira explicou que a companhia ainda não tem os cálculos dos prejuízos com os equipamentos. “Os maiores problemas são com os galhos dos coqueiros, que se desprendem e as telas das obras que se soltam com o vento e quebram os fios elétricos”, salientou.

Ela disse ainda que, para tentar amenizar o problema, equipes técnicas da Coelce estão fazendo vistorias e inspeções preventivas nos canteiros de obras e em ruas onde as árvores possuem galhos próximos aos postes. “Estamos orientando para que os empresários retirem os outdoors de locais onde pode ocorrer risco de queda e podem os galhos das árvores que possam gerar algum tipo de risco para a população”, pontuou Socorro Pontes.

A pesca também está sendo afetada pelos fortes ventos. O presidente da Colônia de Pescadores Z8 de Fortaleza, Possidônio Soares Filho, revelou que neste período do ano é muito difícil para os pescadores pois, por vários dias, não conseguem sair com suas embarcações. O principal motivo são os perigos enfrentados em alto mar devido às rajadas de ventos que podem virar os barcos.

Ele explicou que a diminuição da produção de peixes pode chegar até 50%. Com isso, o preço do pescado de agosto a outubro sofre uma elevação de até 30%. “Fica muito complicado para os profissionais que trabalham com a pesca. Muitos deles não possuem outra atividade paralela e chegam a passar por dificuldades financeiras quando são impedidos de trabalhar. Infelizmente, isso é um fator que foge do nosso controle e só podemos esperar por dias em que as condições climáticas são favoráveis para a pesca”, lamentou.

TURISTAS RECLAMAM DO VENTO
Não são apenas os cearenses que sofrem com o período ventoso. Os turistas que frequentam a praia e gosta de comer os famosos caranguejos também estão se sentindo incomodados pelas fortes brisas. A presidente da Associação dos Empresários da Praia do Futuro, Fátima Queiroz, ressaltou que os frequentadores da praia que costumavam almoçar perto do mar e com “os pés na areia” estão preferindo consumir os pratos nos salões das barracas.
“Não estamos perdendo clientes, mas muitos deles têm reclamado. Os salões das barracas estão mais lotados porque os frequentadores não querem comer recebendo areia no rosto e estragando a comida. Nas quintas-feiras [tradicional conhecida como o dia das caranguejadas], estamos colocando malhas tensionadas ao redor das barracas para amenizar o vento”, relatou Fátima, informando que até o momento nenhum barraqueiro teve prejuízos com destelhamento ou danos estruturais dos estabelecimentos.

CICLO SAZONAL
O meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), José Maria Brabo Alves, explicou que os meses de agosto, setembro, outubro e novembro são caracterizados por rajadas de vento mais velozes. Segundo ele, o fenômeno é causado pelo Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul que, nesta época do ano, aproxima-se do continente sulamericano. No primeiro semestre, este sistema de alta pressão fica posicionado na costa do continente africano.

Outra característica dele é a redução da umidade relativa do ar. Em Fortaleza, este índice pode chegar até cerca de 20%.

Normalmente, fica em torno de 50%, em média. “Apesar dos fortes ventos e da baixa umidade, não recebemos nenhuma notificação de problemas causados pelo sistema de alta pressão. O interior do Estado, inclusive, é bastante atingido, mas até agora também não sabemos de nenhum problema por lá. É um evento natural e que deve durar até outubro ou novembro”, ratificou o meteorologista.

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