Um Guerreiro não morre

Eis artigo do profssor Antonio Mourão Cavalcante publicado no O POVO deste sábado faz uma homenagem à memória do ex-vereador de Fortaleza, Araújo de Castro, um dos fundadores do PDT cearense, que partiu na última semana.

Um Guerreiro não morre

Não consegui lhe ver, mestre Araújo, naquela urna cheia de pétalas brancas. Apurei mais a vista. Prestei mais atenção. Não. Você não estava ali. José Araújo de Castro nasceu em Crateús e disso ele se orgulhava. Falava do Rio Poti com ternura e medo. Lembrava as cheias, quase levando tudo. E a fartura que espalhava pelo sertão. Depois a cidade grande, Fortaleza, onde veio tentar a vida. Sempre morou no bairro de Otávio Bonfim, junto aos frades franciscanos. Pouca gente sabe, mas a raiz mais profunda de Araújo era a fé cristã. Se ele não estivesse em casa, era porque tinha saído para alguma reunião ou reza na Igreja de Nossa Senhora das Dores.
Mas sua grande paixão mesmo era a família. A esposa Maria dos Anjos que ele chamava carinhosamente de “minha nega”. E, amor quase igual, à filha Ana Paula. Os olhos do homem brilhavam quando falava da carreira extraordinária da filha como advogada e professora universitária. Com a esposa, trocava conversas e escondia as doenças. Não queria preocupá-la.
O sentimento público o fez político. Ganhou todas as eleições em que se apresentou como candidato. Vinha dos tempos da resistência democrática, o Modebra. Na época, ele não podia se manifestar brizolista. Dava cadeia. Depois, criado o PDT, foi pioneiro no Ceará. Tornou-se o eterno secretário geral. Conhecia toda a estrutura do partido e toda a legislação eleitoral. Por extrema modéstia, preferia agir nos bastidores, sem arrogância.
Nunca largou o bastão. Virou símbolo do partido. Mas o tempo foi enfraquecendo o corpo/carcaça do velho militante. O PDT foi perdendo o ímpeto, virando uma sigla de aluguel. Isso jamais abalou as suas convicções. Estava sempre encontrando alento para resistir e não se entregar.
Mestre, em verdade, eu não lhe vi ali, naquele caixão. Não é possível… Um homem como você não morre, se encanta. As sementes são feitas para gerar o amanhã.
Antonio Mourão Cavalcante – Médico, antropólogo e professor universitário
a_mourao@hotmail.com

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