O trem da vida

Desculpem, mas isso é pessoal.
Ontem à tarde, as duas e cinquenta atendo ao telefone e é meu amigo Vanderlei Alves dos Reis, o Wando. Embarcava no Rio para show em Porto Alegre. Não era a voz alegre de sempre, mas algo de infeliz no como vai. E nem fez arrodeio: Macário, o Miranda morreu.O Miranda é o cidadão José Hélio de Miranda, o De Miranda, nosso amigo comum. Ao Wando o Miranda deu a oportunidade e fez dele o band lider de um conjunto chamado Os Escaravelhos que ele Miranda criou para abrigar músicos jóvens, quase meninos que moravam em Congonhas do Campo, em Minas Gerais, no distante 1966. Alí, o Vanderlei tocou guitarra, órgão, baixo eletronico, violão, percussão...até virar Wando. O MIranda era locutor de rádio, da Rádio Difusora de Congonhas, radialista, jornalista e empresariava o conjunto Os Escaravelhos que chegou a fazer bailes por toda Minas Gerais e até São Paulo.
O Miranda foi chefe de gabinete de vários prefeitos de Congonhas, de partidos diferentes, chefe de gabinete de deputados estaduais em BH e, por fim, vereador em Congonhas. COmo vereador cometeu a mim bondade maior da vida; fez de mim, Cidadão Honorário de Congonhas, título que carrego não na lembrança, mas como sopro de vida. Quando fico triste lembro de Congonhas e fico alegre. Volto a ser feliz quando sou infeliz lembrando a felicidade congonhense daqueles anos. Isso o Miranda fez por mim. E essas coisas a gente jamais esquece, vira sinal, marca de ferro em brasa gravada no coração, no juízo.
O Dê Miranda partiu sem sofrer disse o Wando. O coração velho de guerra simplesmente parou. Pá! Pronto! Nunca adoeceu. Por mais aperreado que estivesse tinha um gesto ou uma palavra mansa pra ajudar a quem quer que fosse. Não é porque morreu, não, mas era um cara decente. Um homem de bem, incapaz de trair um amigo. Impossivel ouvir dele um não, desde que o não pudesse ser um sim. Viveu lutando pela Teresinha Marra, a mulher dele que lhe deu filhos e força pra vencer na vida. Hoje quando for uma hora da tarde não tem mais o programa Participovo na Rádio Congonhas.
Fez-se silencio naquele microfone. Faz silencio na Cidade dos Profetas. Faz uma saudade enorme e doída no coração dos amigos. O velho e bom Dê Miranda tá chegando ao céu, lugar dos justos, repouso dos perfeitos, pousada da esperança.
O trem da vida parou pro amigo José Hélio Dê Miranda.