Fotografia é história - Palanque moderno


As eleições municipais de 1976 ficaram marcadas pelas restrições impostas pela Lei Falcão. A lei ganhou esse nome de um bajulador que queria adular seu autor, o ministro Armando Falcão, da Justiça. Garantia ao presidente Geisel que as limitações nela contidas não permitiriam críticas ao regime militar e seria o bastante para conter o avanço nas urnas dos votos de oposição. A tevê passava a mostrar e falar de eleição. Entretanto, no horário permitido pelo governo e fiscalizado pelo Tribunal Eleitoral, só era consentido aos candidatos a prefeito e vereador mencionar a legenda do partido, um brevíssimo histórico do concorrente e seu número ao lado da foto. Na dúvida sobre a eficiência da propaganda eletrônica, os candidatos acreditavam mesmo era na força de sua própria voz, no contato pessoal com o eleitor nos comícios, por menores e menos sofisticados que fossem. Como esse da foto, em Manacapuru, perto de Manaus.
Como foi – Henrique Caban era chefe n’O Globo e queria fazer edições que mostrassem as variadas facetas daquela eleição. Coube-me cobri-la no Amazonas. Naquela época, não era permitida a eleição para prefeito nas instâncias minerais, nas áreas consideradas de segurança nacional nem nas capitais dos estados. Mas ficamos em Manaus porque para chegar a Manacapuru era só cruzar o rio de balsa. Trabalhando no dia-a-dia em Brasília, na pompa do Palácio Planalto, eu sabia que não iria encontrar no interior o mesmo capricho das cerimônias que costumeiramente eu fotografava na Capital Federal. E era justamente esta minha função: captar e repassar aos eleitores cenas do clima eleitoral daquela longínqua cidadezinha da Amazônia. No palanque feito com restos de caixotes de madeira só cabiam cinco pessoas. Os candidatos se revezavam no sobe-e-desce. A iluminá-los, duas – duas – lâmpadas cercada de mariposas. O som do alto-falante mal e mal alcançava o ouvido dos trinta ou quarenta presentes. Pois é. Depois dessa foto aí na singela Manacapuru, subi em mil palanques nas campanhas presidenciais. Grandes comícios, mega-comícios, sofisticados comícios, showmícios, milionários comícios, cheios de layouts arrojados, displays, jingles e back-lights. Mas esse aí da foto nunca me saiu da lembrança. Tão mambembe e tão simbólico.
Orlando Brito.
(Grande Orlando!)

Nenhum comentário:

Postar um comentário