Fim de vistos pode fazer Sérvia crescer como destino turístico de brasileiros no Leste Europeu

Fotos dos arquivos pessoais de:Chica Batella e Maria Almeida

Quem pensa que viajar ao Leste Europeu se resume a conhecer Praga, Budapeste e algumas cidades da Polônia pode se surpreender ao se deparar com a Sérvia, um dos países menos lembrados da Europa e que, embora poucos já conheçam, vem recebendo cada vez mais turistas brasileiros encantados com paisagens, vida noturna, diversos eventos de música e gastronomia.

"São pessoas completamente diferentes, com uma cultura diferente, mas a sua forma de falar e de agir são muito parecida com as dos brasileiros. É muito interessante", é como a DJ e promoter carioca Maria Teresa Ferreira de Almeida, pela terceira vez no país, vê as pessoas nesta ex-república da antiga Iugoslávia.

Maria é uma das centenas de visitantes que a Sérvia recebe do Brasil todos os anos. Segundo dados oficiais da Comissão Europeia para Turismo, mais de 2 milhões de brasileiros visitam a Europa anualmente, mas, desses, somente cerca de mil pessoas vem à Sérvia, no coração dos Bálcãs.



Uma das principais razões para isso é o regime de vistos. Hoje, a Sérvia é um dos últimos quatro países da Europa a exigir vistos para brasileiros, junto com a Rússia, a Bielorrússia e a Moldávia. Desde a abolição unilateral da exigência feita pela Macedônia, em 2008, e pela Bósnia e Montenegro, em 2009, a Sérvia passou a ser o único país da antiga Iugoslávia a ainda requerer vistos para pessoas com passaporte brasileiro.

Isto pode mudar com a ratificação do acordo bilateral sobre a supressão de exigência recíproca de vistos para os cidadãos do Brasil e da Sérvia em viagens, assinado no último dia 20 de junho, quando o ministro Celso Amorim esteve em Belgrado. A medida precisa ainda ser aprovada pelos parlamentos dos dois países.

"Há muito tempo, os brasileiros não precisam de visto para visitar a União Europeia", diz Ljubomir Orlović, conselhero da Embaixada do Brasil em Belgrado. "Com frequência, ligam para a nossa embaixada de outros países da região para perguntar se é possível obter um visto na fronteira".

Este ano, um grupo de sérvios que vive no Brasil iniciou uma campanha na internet pela abolição da exigência mútua de vistos de turismo entre os dois países. Num manifesto escrito em abril e republicado pela imprensa de Belgrado, Momcilo Nikolic, que mora no Maranhão há mais de dez anos, alega que seu país perde "milhões de euros de visitas não realizadas pelas multidões de turistas brasileiros" que vão à Europa todos os anos.

Dificuldades

Como a Organização Turística da Sérvia, por falta de verba, não está em condição de conduzir uma campanha de promoção da Sérvia no Brasil (os esforços foram concentrados em inserções publicitárias de TV na rede CNN, em 2008 e 2009), os brasileiros que se interessrem em saber mais detalhes sobre a oferta turística do país podem acessar o website da entidade.

Apesar destas dificuldades, neste verão europeu (inverno no Brasil), Maria visitou a Sérvia pela terceira vez, e conseguiu trazer seus amigos. Ela acredita que o outro grande problema é uma imagem equivocada que algumas pessoas fazem do país.





"As pessoas têm preconceitos, ideias velhas sobre o Leste Europeu, que não correspondem à realidade. Em comparação com o Rio, na Sérvia eu me sinto muito segura. A gente anda pelas ruas à noite sem nenhum medo ou receio", conta a DJ, que organiza festas de música cigana e balcânica no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Paz e preços baixos

A Sérvia ficou independente do Império Otomano em 1878, depois foi membro-fundador da Iugoslávia, em 1918, e permaneceu na federação até 2003, quando o país foi extinto e o nome foi alterado para as duas repúblicas remanescentes, Sérvia e Montenegro. Estas se separaram pacificamente em 2006, e desde então o governo trabalha com duas prioridades: candidatar-se à adesão a União Europeia e tentar impedir a independência do Kosovo, região do sul habitada por uma maioria étnica de albaneses.

Embora algumas pessoas associem a ex-Iugoslávia às guerras dos anos 1990, como na Bósnia, não houve combate em território sérvio e o único conflito ocorrido foi o bombardeio aéreo unilateral da OTAN, entre março e junho de 1999. Desde então, os principais problema do país são econômicos, como o alto desemprego e a emigração de mão de obra qualificada. Por outro lado, a moeda desvalorizada, o baixo custo de vida e os preços em conta são uma vantagem para os turistas e podem surpreender até quem acha que uma cidade como Praga é o mais barato que a Europa oferece.

"Outra vantagem é que tudo na Sérvia é muito barato em comparação com o Brasil", comemora Maria Teresa. De fato, diárias de albergues em baixa temporada podem sair por cerca de 10 euros (cerca de 22 reais), enquanto um almoço completo num restaurante típico não costuma passar de 12 euros (26 reais). O transporte público, inclusive para estrangeiros, é subsidiado e tem tarifas de cerca de menos de 50 centavos de euro (pouco mais que 1 real). Além disso, a Sérvia é proporcionalmente um dos países do Leste Europeu com grande presença no Couchsurfing, a rede virtual de hospedagem solidária (e gratuita).

Mesa e natureza

Além da comida típica, de que gostaram muito, Maria e os amigos dizem que uma das mais belas lembranças desta última viagem foi o Festival de Trompetes de Guca (pronunciado "gutcha"): "É um lugar maravilhoso, cheio de energia positiva e muito divertido. Inclusive eu aprendi o kolo, a dança tradicional da Sérvia".

Opera Mundi

Nenhum comentário:

Postar um comentário