FALAM OS PORTA-VOZES

Preservar a memória

Por André Singer em 31/8/2010

Apresentação de No Planalto, com a Imprensa / Entrevistas de secretários de Imprensa e porta-vozes: de JK a Lula (2 vol.), de André Singer, Mário Hélio Gomes, Carlos Villanova, Jorge Duarte (orgs.), 412 pp., Fundação Joaquim Nabuco-Editora Massangana e Secretaria de Imprensa da Presidência da República, Recife e Brasília, 2010; intertítulos do OI

Este livro nasceu com o objetivo de preservar o que se poderia chamar de memória institucional. Em 2005, no curso de uma reformulação da então Secretaria de Imprensa e Porta-Voz (SIP) da Presidência da República, os organizadores da presente coletânea entenderam oportuno registrar e divulgar os antecedentes históricos do órgão. Decidiu-se procurar os antigos titulares e pedir que concedessem entrevistas sobre a sua passagem pelo governo. Passados cinco anos daquela ocasião, novas mudanças já ocorreram, porém as lembranças suscitadas por aquela iniciativa permanecem como documento que, acreditamos seja de interesse público, tanto pelo que contribui para o conhecimento da imprensa no Brasil quanto pelo que revela sobre a política do país.

Por coincidência, estes volumes vêm à luz praticamente meio século depois de nomeado, informalmente, o primeiro secretário de Imprensa da Presidência. Não temos conhecimento da data precisa em que o escritor Autran Dourado, o decano dos secretários, foi designado por Juscelino Kubitschek para ocupar a função de secretário de Imprensa. As pesquisas que fizemos, contudo, apontam para o provável ano de 1958. Antes disso, o contato do presidente da República com o Gabinete de Imprensa da Presidência dava-se por outros meios (ver o ensaio de Jorge Duarte, "Gabinetes de Imprensa da Presidência: da Proclamação às vésperas do golpe"). Só em 1963, quando Raul Ryff era o titular do cargo, um decreto de João Goulart deu vigência legal à secretaria. Poucos meses depois, Jango e seu secretário eram exilados pela ditadura estabelecida em abril de 1964.

Embora o regime militar tenha representado uma longa e dolorosa supressão das liberdades democráticas, só plenamente restabelecidas 25 anos depois, decidiu-se pela inclusão, sem omissões, de todo o período 1964-1989, em respeito ao propósito de resgatar, do modo mais completo possível, a memória da constituição da Secretaria de Imprensa e das atividades do porta-voz da Presidência da República.

Fala original

Apenas o general José Maria de Toledo Camargo, que esteve no comando da área entre 1977 e 1978 (governo Ernesto Geisel), e a jornalista Ana Tavares de Miranda, que chefiou a Secretaria de Imprensa entre 1995 e 2002 (governo Fernando Henrique Cardoso), declinaram do convite para conceder entrevistas e, por isso, não constam das páginas que se seguem. Também não estão no livro entrevistas de Raul Ryff, Danton Pinheiro Jobim, Heitor Herberto Sales, Heráclio Assis de Salles, José Wamberto Pinheiro, Oséas Martins, Rubem Carlos Ludwig e Carlos Castello Branco, nomes da história da secretaria de Imprensa, mas já falecidos quando do início do projeto.

O diplomata Carlos Villanova, que coordenou o trabalho de pesquisa para selecionar os que seriam convidados a participar do livro, buscou incluir todos os que exerceram a função de secretário de Imprensa e/ou porta-voz da Presidência da República, de 1958 a 2005, ainda que o exercício tenha ocorrido por pouco tempo e que o título formal tenha sido outro. Eventuais lapsos ou dúvidas sobre a natureza das funções exercidas terão sido resultado da própria natureza, por vezes atribulada, da história da instituição que se deseja retratar e não de qualquer intenção dos organizadores.

O jornalista Jorge Duarte realizou as entrevistas em junho e agosto de 2005, com total independência e autonomia. Optou por ser, ao mesmo tempo, abrangente e flexível, de modo a funcionar, sobretudo, como um facilitador do relato que o entrevistado quisesse fazer sobre o período que lhe coube viver na Presidência da República. Firmou-se um acordo segundo o qual nenhum dos textos seria publicado sem a aprovação expressa do respectivo entrevistado, a quem cabe, assim, a responsabilidade pelas opiniões, informações e interpretações emitidas. Cada depoimento foi submetido ao entrevistado em dois momentos, sendo o último uma proposta de versão final, mas o entrevistado teve liberdade para alterar e complementar suas respostas. As entrevistas, algumas das quais se estenderam por muitas horas, foram realizadas na residência ou no local de trabalho do antigo secretário e/ou porta-voz. Algumas fugiram a esse padrão, como a de Francisco Baker e Alexandre Parola, tomadas por telefone, respectivamente de Washington (EUA) e Genebra (Suíça), onde ambos então residiam. Carlos Fehlberg preferiu responder por escrito.

Além dos ex-secretários e ex-porta-vozes, Jorge Duarte realizou, entre outras, entrevistas complementares com Augusto Marzagão, que lidou com aspectos da comunicação nos governos de Jânio Quadros (1961), José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1995), com José Aparecido de Oliveira, que foi secretário particular de Jânio Quadros, com Getúlio Bittencourt e com Sônia Carneiro, jornalista que cobriu as atividades da Presidência da República por muitos anos e em diversos períodos. A lista completa das entrevistas e depoimentos que Jorge Duarte colheu está no final do seu ensaio "Gabinetes de Imprensa da Presidência: Da Proclamação às vésperas do golpe".

O editor Mário Hélio Gomes preparou as centenas de notas de contextualização histórica, com o objetivo de ajudar o leitor a seguir o fio dos acontecimentos. É possível que alguns dos fatos ou interpretações que aparecem em uma entrevista não sejam corroborados por descrições de outra; no entanto, optou-se por não tentar uma checagem das versões, o que não seria compatível com a proposta original. Ficará a cargo de pesquisas futuras dar conta das possíveis contradições. Na edição das entrevistas, buscou-se sempre preservar a fala original do entrevistado, assumindo-se que se trata de conteúdo memorialístico, sujeito a falhas e lacunas.

Personagens decisivos

Quando o trabalho já ia adiantado, o experiente fotógrafo Orlando Brito aceitou realizar a edição das imagens que ilustram os dois volumes. A ele, e aos demais colegas que dedicaram tempo e trabalho para que este projeto fosse concluído, se deve o resultado que agora chega às mãos do leitor.

Ao decidirmos organizar a obra estávamos conscientes das limitações. Sem a pretensão de ter realizado um trabalho de história, procurou-se, contudo, reunir o máximo de informações cabíveis em um livro de memórias.

Em um ou outro momento do percurso, muitos foram os que deram apoio para que este livro pudesse existir. O ministro Franklin Martins; o ex-ministro Fernando Lyra, presidente da Fundação Joaquim Nabuco; o ex-subsecretário de Comunicação Institucional do Governo, Tadeu Rigo; a diretora do Departamento de Fotografia de O Estado de S.Paulo, Mônica Maia; os fotógrafos Getúlio Gurgel, Hélio Campos Mello e Ricardo Stuckert, além de instituições como a EBC e o Arquivo Nacional; as jornalistas da Secretaria de Imprensa e Porta-Voz (SIP) Ana Lúcia Façanha Morelli, Ana Maria Carneiro de Mattos, Érika Guilhermino Reis da Motta, Frances Mary Coelho da Silva e Márcia Barreto Ornelas; as secretárias da SIP Cleo Borges,

Icleia Velloso, Maria Aparecida de Rezende, Mariângela Rabello, Neide Cunha e Keila Evangelista foram alguns dos personagens decisivos no caminho que resultou nestes volumes. Em nome dos organizadores, quero deixar expresso que esta obra não teria acontecido sem o aporte de cada um deles, e de muitos outros que não é possível citar aqui, que deram sua quota de esforço para que uma parte da memória brasileira fosse preservada.

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