Cajucultura no CE pode sumir em cinco anos



Dos 350 mil hectares de cajueiros existentes, 30% estão improdutivos

Por Dháfine Mazza
dhafine@oestadoce.com.br

O Ceará é hoje o maior produtor de castanha de caju do País, mas a cajucultura pode desaparecer em um prazo médio de cinco anos, caso não haja uma mudança radical nos tratos com a produção, destacando a valorização do pedúnculo e um maior interesse pela atividade por parte dos governos federal, estadual e municipal. A constatação é do engenheiro agrônomo e presidente do Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará (Sincaju), Paulo de Tarso. De acordo com o agrônomo, existem hoje cerca de 350 mil hectares de caju, desse total, cerca de 30% estão totalmente improdutivos.
“A maior parte dos cajueiros possui mais de trinta anos e foi plantada sem nenhuma seleção. Além disso, a cultura extrativista prevalece, não há manejo adequado. Eu nunca vi você retirar algo do solo e não nutrir o solo. Existe ainda um grande desperdício do pedúnculo. Todos esses fatores contribuem para a exaustão da atividade. Já perdemos a cultura do algodão e, se continuarmos assim, perderemos a cajucultura também”, afirma Paulo de Tarso.

Ademais de todas as dificuldades, a produção o preço da castanha têm caído e a comercialização do produto, em muitos casos, não tem sido suficiente para cobrir os gastos dos produtores. “Já vi produtores cortando os galhos do cajueiro para vender como lenha, pois afirmam que isso está dando mais lucro que a comercialização da castanha”, diz o presidente do Sincaju, acrescentando que, atualmente, a atividade emprega cerca de 150 mil pessoas em todos os elos da cadeia produtiva. “Se perdermos a cajucultura, que vamos perder, infelizmente, todas essas pessoas irão inchar ainda mais os centros urbanos”, prevê.

SAFRA MENOR
Na última safra (2009/2010), foram produzidas 135 mil toneladas de castanha de caju. Neste ano, a previsão é que a safra seja cerca de 40% menor. Conforme Paulo de Tarso, apenas em alguns municípios, como Horizonte e Pacajus, a produção de caju deve ser boa neste ano. Já em municípios como Itapipoca, Camocim e Cascavel, por exemplo, a expectativa é de uma produção bem menor que a do ano passado. “Esse quadro pode melhorar e, em alguns municípios, a perda pode não ser tão grande, isso se parar de ventar tanto, prejudicando a produção, uma vez que a floração do caju é periférica e os ventos acabam levando as flores”, explica.

MEDIDAS
Para o engenheiro agrônomo, é preciso que os governos federal, estadual e municipal invistam fortemente em políticas públicas a fim de salvar a atividade. Entre as soluções apontadas por ele, estão: qualificação de agentes rurais e técnicos agrícolas em cada município especificamente para a cajucultura; utilização de clones de cajueiro de alta produtividade, desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Universidade Federal do Ceará (UFC); substituição do cajueiro comum pelo cajueiro anão precoce; e agregar valor ao pedúnculo.

Paulo de Tarso destaca que a tecnologia hoje permite escolher o cajueiro de acordo com a necessidade do produtor: com castanha maior, pedúnculo mais doce etc. Além disso, a substituição dos cajueiros comuns pelo cajueiro anão precoce é importante para aumentar a produtividade. Enquanto um cajueiro comum produz cerca de 300 quilos de castanha por hectare, a produção média do cajueiro anão precoce é de 800 quilos por hectare, podendo chegar até a 2.000 quilos em áreas irrigadas. O Ceará, contudo, possui apenas 35 mil hectares de cajueiro anão precoce.

APROVEITAMENTO
Atualmente, a maior parte dos cajucultores comercializa apenas a castanha, gerando um desperdício de 90% do pedúnculo. Segundo o presidente do Sincaju, valorizar o pedúnculo é uma das principais formas para salvar a atividade, mas, para isso, precisa de políticas públicas fortes para a atividade. “Temos tecnologia para valorizar o pedúnculo, só falta vontade política”, afirma.

O pedúnculo do caju pode ser utilizado de diversas formas, sendo transformado em produtos como sucos, cajuína, refrigerantes, sorvetes, doces, aguardente, hambúrguer, mel etc. “O empresário Wagner Jucá e o Sincaju evidenciam o uso da matéria-prima para a produção do mel do caju, que possui alto valor econômico e riqueza nutricional considerável”, afirma, destacando que, para a valorização do pedúnculo do caju passa pela intervenção dos governos federal, estadual e municipal, bem como pela mudança de cultura dos produtores.

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