Opinião

Calar vale ouro

Carlos Alberto Alencar - Jornalista

Os coronéis William Alves Rocha, comandante geral da Polícia Militar do Estado do Ceará, e Werisleik Ponte Matias, comandante da Polícia Comunitária, o Ronda do Quarteirão, infelizmente, não têm razão quando tentam minimizar, como fato isolado, as conseqüências dramáticas que cercam o brutal e estúpido assassinato do estudante Bruce Cristian de Oliveira, de apenas 14 anos, no final da tarde do último domingo, em uma das mais movimentadas avenidas de Fortaleza. Ainda à luz do dia, na Desembargador Moreira, o garoto foi assassinado pelo policial militar Yuri da Silveira, em uma tentativa desastrada de abordagem por uma patrulha do Ronda ao pai do garoto, o técnico em refrigeração Francisco das Chagas de Oliveira, que transportava o filho na garupa de uma motocicleta.

Jogar toda a responsabilidade da tragédia nas costas do soldado assassino é muito fácil e cômodo para o comando da PM cearense. Porém, não é justo e nem condiz com o espírito de uma corporação centenária, que tem por obrigação primordial promover a segurança ostensiva da sociedade e preparar adequadamente seus efetivos para este mister, inclusive dando-lhes toda a segurança e garantias para isso. Deploravelmente, isto não acontece com a Polícia Militar do Ceará nenhuma coisa nem outra. Nem a instituição protege os cidadãos e nem oferece condições adequadas a fim de que seus membros cumpram com eficiência o constitucional dever de promover a segurança no Estado.

Basta abrir as páginas dos jornais, diariamente, para comprovar os dois lados dessa medalha que desonra a Polícia Militar: São constantes as denúncias dos próprios policias (militares e civis) de condições adversas de trabalho, da falta de qualificação e de preparo para o exercício da segurança pública, corroboradas por episódios frequentes em que esses profissionais são assaltados, têm suas armas tomadas, são feridos por bandidos que extrapolam todo limite da ousadia e ainda se envolvem em acidentes de trânsito inexplicáveis. O comando da PM nunca deu explicação para nenhum desses fatos.

Por outro lado – este consequência do outro e bem mais grave – aí está a população, no seu dia-a-dia, na Capital e no interior do Estado, completamente desprotegida, vítima da violência dos criminosos e também de policiais bandidos, mal preparados ou as duas coisas. Não, absolutamente, a execução do adolescente não foi um fato isolado da sequência assustadora e escandalosa de crimes (tanto como vítimas, como autores) em que vêm se envolvendo polícias militares. Ademais, deve-se enfatizar que, na hierarquia militar, as atitudes dos subordinados, de forma geral, refletem as decisões de seus comandantes.

Por último, estou preocupadíssimo em saber quantos inocentes - entre policiais e cidadãos comuns - ainda precisarão ser assaltados e morrer, para os comandantes da Polícia Militar e do Ronda do Quarteirão e o próprio secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Monteiro – entenderem e admitirem que esses crimes não são casos isolados e que maculam, sim, a imagem centenária da corporação e também são uma demonstração cabal do despreparo e da falta de qualificação de seus membros? O reconhecimento de um problema é o primeiro passo para a sua solução.

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