Família de Bruce vai processar o Estado



"Estou mais aliviado e procurando justiça, não podemos ficar de braços cruzados, apesar do dano irreparável", afirma pai do adolescente, Francisco das Chagas de Oliveira



Por Aline Braga
Da Redação do JOrnal O Estado

Após quatro dias da morte de Bruce Cristian de Sousa Oliveira, 14, baleado com um tiro na nuca, efetuado por um policial militar em serviço, o pai do adolescente, Francisco das Chagas de Oliveira Sousa, 37, prestou depoimento na delegacia responsável pelas investigações do caso, ontem à tarde.
Segundo o delegado Munguba Neto, titular do 4º Distrito Policial, essa foi a primeira vez que Chagas foi ouvido por ele. Munguba ressaltou que é de suma importância esse novo depoimento do pai da vítima, pois vai esclarecer muitas dúvidas sobre o caso. “Serviu para colher mais detalhes. Chagas disse, praticamente, a mesma coisa que já havia dito no seu primeiro depoimento, no 2º DP, a delegacia que estava de plantão no dia do acontecido. Ele falou que estava quase parado atrás do ônibus, quando realmente ouviu uma voz e olhou pelo retrovisor, mas não viu ninguém e prosseguiu na moto. Depois ela achava que era um assalto e, por isso, não parou”.

Ainda em depoimento, Chagas disse que, minutos depois de ouvir a voz e não parar a moto, escutou um tiro e percebeu que seu filho havia caído, quando perdeu o controle e também caiu junto. Conforme o delegado, o pai do estudante afirmou que o policial, no momento do crime, disse que a intenção era de atirar no pneu do veículo e não no menino.

Versões do policial no dia do crime
Com a cópia do depoimento prestado pelo policial Yuri da Silveira Batista, 25, no 2º DP, no dia do fato, em mãos, Munguba revelou que o acusado disse ter puxado a arma, após os ocupantes da moto, que pareciam suspeitos para ele, não terem parado o veículo. Na delegacia, o policial disse uma versão contraditória a do local do crime: de que o garupeiro fez a menção de puxar algo da cintura e, por conta dessa atitude, ele teria sacado a arma, que disparou acidentalmente.

O delegado informou que o depoimento do pai condiz com o das duas testemunhas que filmaram o momento do crime. Disse ainda que, depois de ouvi-las, ele encontrou mais amparo para as investigações. “A versão que se encontra mais robusta é a dos três, pois não encontrei contradições”, afirmou. “Já ouvi dois vigilantes de prédios que ficam localizados próximos do acontecimento, os dois rapazes que filmaram o fato e ainda o pai da vítima. Amanhã (hoje) vou parar e analisar todo o material, como os depoimentos, as imagens e outros dados. Inclusive, na próxima semana vou ouvir o soldado Yuri Batista”.

Laudo da arma
Questionado sobre o resultado das perícias, Munguba Neto falou que o diretor do Instituto de Criminalística, Roberto Rios, disse que o laudo do exame da arma já estava pronto e que amanhã (hoje) ele estaria com o resultado em mãos. “Este laudo vai ser fundamental para as investigações. Ele vai dizer se a arma estava em perfeitas condições de uso ou se apresentava algum defeito”.
Em depoimento o policial disse ainda que, na ocasião, estava voltando de uma ocorrência de perseguição a uma Hilux preta, que, segundo ele, havia quatro homens armados, quando avistou a moto e avaliou que os motoqueiros fossem suspeitos. De acordo com o atual advogado de Yuri Batista, Hernando Uchôa Sobrinho, que assumiu a defesa do policial ontem, todas as questões precisam ser bem apuradas. “Estou tendo contato com as investigações e darei continuidade de acordo com os fatos”. Segundo ele, há exageros de como as pessoas e a imprensa está tratando o caso.

“Tive contato com Yuri. Ele está arrasado, destruído e está sendo massacrado com uma avalanche de conotações pesadas contra ele. Inclusive, ele não teve condições de conversar muito comigo para me repassar como tudo aconteceu”, ressaltou Hernando.

AÇÃO NA JUSTIÇA
Kennedy Ferreira Lima, advogado da família de Bruce Cristian, informou que as investigações tem avançado e, que é muito difícil provar que esse tiro foi acidental. Segundo ele, o Ministério Público é o titular da ação. “Nós acreditamos que o MP também vai defender a linha de que o crime teve característica dolosa, quando há intenção de matar. Assim como a família, a sociedade espera Justiça”, esclareceu. “Agora, estamos preparando toda a documentação para entrar com uma ação de danos morais e materiais contra o Estado”, afirmou Kennedy.

Abalado, o pai de Bruce disse após o depoimento que estava mais aliviado e que não poderia ficar de braços cruzados diante de um dano irreparável como esse. “Quando vi meu filho morto no chão, perguntei para o policial porque ele tinha atirado e ele me respondeu que seria no pneu. Ele não tinha o direito de atirar”, desabafou Chagas.

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