OBAMA NO BRASIL

Sebastião Nery
Em 1959, apareceram de repente, na recepção, corredores, bar e restaurante do Hotel da Bahia, em Salvador, onde, de volta à Bahia, eu morava, dois elegantes negros, um homem e uma mulher, ele brasileiro, Breno Mello, ela norte-americana, Marpessa Dawn. Faziam muito sucesso, no hotel e na rua. Quando chegaram, ninguém sabia o que faziam ali.
Logo todo mundo ficou sabendo. Eram os dois principais atores do filme “Orfeu Negro” (ou “Orfeu do Carnaval”) que o cineasta francês Marcel Camus rodara também em Salvador, dirigido por ele, produzido pelo francês Sacha Gordini e fotografia de Jean Bourgoin, cuja ação se passa quase totalmente numa favela do Rio de Janeiro, durante o Carnaval.

VINÍCIUS
Irmão do jornalista, filósofo, romancista e Prêmio Nobel Albert Camus, Marcel Camus, pintor, escultor e professor de desenho, havia passado quatro anos preso durante a Guerra e tinha ligações com o Brasil através de Vera Amado, filha do embaixador e escritor Gilberto Amado.
O filme era baseado na peça de teatro de Vinícius de Morais “Orfeu da Conceição”. Quase todos os personagens são negros brasileiros. Os atores também : além de Breno, Lourdes de Oliveira, Lea Garcia, Alexandro Constantino, Waldemar de Souza, Jorge dos Santos, Aurino Cassiano, Ademar Ferreira da Silva, o bi-campeão olímpico,e Vera Amado.

BRENO MELLO
Breno Mello era gaucho de Porto Alegre (nasceu em 1931 e morreu em 2008), jogou futebol no Fluminense. Com músicas e letras magníficas, antológicas, de Luís Bonfá e Antonio Maria (“Manhã de Carnaval”) e Tom Jobim e Vinícius de Morais (“A Felicidade”), o filme ganhou a “Palma de Ouro” em Cannes e o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”.
Vinícius não gostou muito do filme. Achou “comercial”. Preferia sua peça. Mas foi o “Orfeu Negro” que jogou seu nome na boca do mundo.

• FERNANDO JORGE – E Obama com isso? Aqui é que nasce a segunda história, inacreditável mas verossimil. Acaba de sair em São Paulo (Editora Novo Século) um livro fascinante, “Se Não Fosse o Brasil, Jamais Barack Obama teria nascido”, de um dos mais cultos, respeitados e produtivos escritores brasileiros, romancista, pesquisador, biógrafo, professor.
Autor de inúmeros livros de sucesso, como “Getúlio Vargas e Seu Tempo” (2 volumes), “O Aleijadinho, Sua Vida, Sua Obra, Seu Gênio”, “Vida e Poesia de Olavo Bilac”, “As Lutas, a Gloria e o Martírio de Santos Dumont”, “A Academia do Fardão e da Confusão”, “Cale a Boca, Jornalista – O Ódio e a Fúria dos Mandões Contra a Imprensa Brasileira”.
Fernando Jorge, numa minuciosa pesquisa sobre as origens, a vida e a família do presidente dos Estados Unidos, inclusive seus livros de memórias, descobriu que “Se Não Fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido”. Tudo dentro da história do racismo nos Estados Unidos.

1 - MÃE BRANCA – “Como era branca, sem um pingo de sangue africano, Stanley Ann Dunham foi aceita para ingressar na Universidade de Chicago, mas o seu pai (avô de Obama) não a autorizou a ir. Nesta época ela estava com dezesseis anos, trabalhando na casa de uma família, e sentia-se adulta, dona de si, independente. Resolveu assistir ao primeiro filme estrangeiro de sua vida, “Orfeu Negro”, dirigido em 1959 por Marcel Camus e baseado na peça Orfeu da Conceição, do poeta brasileiro Vinícius de Moraes”.
“Ann saiu deslumbrada do cinema e confessou que aquele filme havia sido a coisa mais bonita que ela tinha visto na sua vida, conforme Obama narra no capítulo seis do livro “Dreans From My Father”.

2 – PAI NEGRO - “Pouco tempo depois, a jovem Ann, com dezessete anos, foi para o Havaí, a fim de estudar na universidade daquele estado americano, e lá conheceu, numa aula de russo, o rapaz africano Barack Hussein Obama, de vinte e três anos, completamente preto, nascido no Quênia e criado no vilarejo Alego, cheio de rebanhos de cabras.”
“A semelhança física entre Breno e Barack Hussein Obama sênior, o pai do presidente dos Estados Unidos, era de fato impressionante. Os dois tinham a mesma cor escura, a mesma cara redonda, os mesmos olhos ovais, o mesmo tipo de cabelo, o mesmo nariz chato, o mesmo queixo, os mesmos dentes brancos e até o mesmo sorriso”.
“Pareciam os irmãos corsos do romance de Alexandre Dumas. Só faltava um sentir o que o outro sentia, dor ou prazer, qualquer sensação, como ocorre nessa obra do ficcionista francês.

Breno Mello
“É muito lógico: quando a moça Stanley Nan Dunham, bem branca, conheceu Barack Hussein Obama sênior no Havaí, ele foi para ela a transposição do rapaz brasileiro Breno Mello nesse rapaz de origem africana, nascido no Quênia’.
“Deslumbrada pelo “Orfeu Negro”, a ponto de dizer ao seu próprio filho que este filme havia sido a coisa mais linda que tinha visto em toda sua vida, Ann nutriu o ardente sonho de também ser uma Eurídice e encontrar o seu Orfeu. E o encontrou na figura de Barack Hussein Obama sênior, o quase sósia de Breno Mello, pai de Barack Obama”.
Como dizem os italianos, “si non é vero, é bene trovato”

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