Fotografia é história - Cena Brasileira: mau-olhado


Benzedeira. É nela em quem muita gente deposita a crença na esperança de resolver aflições e superstições, como o quebranto e o mau-olhado e suas conseqüências: a inveja, o azar, a tristeza. Juazeiro, Bahia, 1987.
Como foi – A benzedeira mandou Damião fechar os olhos. Tomou sua mão e deram uma volta pelo quintal. Depois lhe disse para sentar-se no tamborete de madeira. Como estava de olhos cerrados, o paciente levou o maior tombo. Para ele, tudo bem. Em nome de tirar do corpo a sensação de moleza e desânimo qualquer lance lhe servia, ainda que fosse cômico como sua queda. Essa é uma das históricas que aconteceram durante a viagem que fiz pelo interior do Brasil colhendo fotos para o livro “Corpo e Alma”. Depois de benzer o crédulo Damião com uma flor branca e um ramo de arruda, a rezadeira finalizava o ritual da simpatia. Sem olhar para trás, saiu caminhando de costas em direção à rua olhando fixamente para o bendito Damião. Tadinha! Tropeçou com os calcanhares em um cão que dormia próximo ao portão. Se a mordida do cachorro foi dolorida e se situação de Damião melhorou, não tenho notícia. Mas quando fui retirar o filme de minha Leica, percebi que a tampa que impede entrada de luz não estava corretamente fechada. Depois de revelar o filme, vi que o negativo apresentava essa invasão luminosa em cima de Damião. Como o véu branco sugeria alguma interferência do além, deixei permanecer. Cruz credo!
Orlando Brito.

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