PSDB reúne-se por 4h para decidir nada

Por Bruno de Castro,
da Redação do Jornal O Estado

O primeiro compromisso político do senador Tasso Jereissati (PSDB) em 2010 durou cerca de quatro horas: uma reunião com toda a bancada tucana na Assembleia Legislativa, suplentes do partido, deputados federais e o presidente da sigla, Marco Penaforte. Ao todo, 19 convidados. Contudo, o encontro terminou sem definições sobre o rumo dos tucanos cearenses, no tocante à sucessão estadual, daqui a nove meses.

Desde o ano passado, a agremiação vive um dilema para chegar a um consenso sobre a oficialização de candidatura própria ao Governo ou o apoio ao candidato à reeleição, Cid Gomes (PSB). Há três meses, começou a fazer balanços. À frente do processo, Tasso Jereissati.

A expectativa era de que uma decisão fosse tomada até o final de dezembro ou, no máximo, com o término de janeiro. Porém, qualquer deliberação só deve ser anunciada em fevereiro, após o carnaval, depois de mais uma reunião. Desta vez, em Crateús.
A procrastinação vai de encontro à manobra da Executiva Nacional do PSDB, que já agendou para a próxima semana o fechamento de uma agenda pró-José Serra, nome mais cotado para participar da briga presidencial. “Havia uma ansiedade por parte de muitos de que definíssemos tudo hoje [ontem]. Mas, ninguém vai tomar decisão agora”, admitiu o vice-líder Tomás Figueiredo.

Racha
E não se concluiu nada porque a sigla está dividida. Há quem levante a bandeira de que Tasso deve lançar-se no confronto com Cid Gomes. Entretanto, existem os que preferem a manutenção da aliança com o governo estadual. É o caso de Osmar Baquit, que tentou encontrar evolução no discurso de 2008 para o utilizado ontem. “O que andou? A colocação do doutor Tasso de que não é candidato a governador. Conversar não significa definir”, disse.
No entanto, essa é uma linha de defesa do senador desde a convenção estadual da agremiação, realizada no segundo semestre do ano passado. Diante de uma plateia repleta de prefeitos, Tasso disse preferir que “sangue novo” participe da eleição para o Palácio Iracema. Ele prefere concorrer à reeleição para ficar mais oito anos no Congresso Nacional. “O nome dele está descartado. Isso daí não tem nem o que se pensar”, reiterou Baquit.
Existe divergência até no momento da contabilidade de quem é a favor ou contra a continuidade de aliança com o governador. Osmar afirmou que a maioria está disposta a continuar do lado do PSB. Já a suplente Tânia Gurgel indicou o contrário: “a maioria defende uma candidatura própria”.

JUSTIFICATIVAS
Em meio aos ruídos, algo em comum: a fala de que o cenário nacional é o culpado por tudo isso. Até dezembro, o PSDB atribuía a indefinição local ao fato do partido ter mais de um pré-candidato à Presidência. Além de José Serra, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, também era ventilado.
Agora, semanas após o mineiro desistir do pleito e iniciar sua movimentação em torno de uma cadeira no Senado Federal, os tucanos cearenses citam o deputado federal Ciro Gomes (PSB) como entrave. “O Ciro poderá modificar todas as posições postas. Dentro dessas variáveis, o PSDB continua tentando ver dentro dos seus quadros, senão o senador Tasso Jereissati, quem pode ser o candidato forte para disputar as eleições?”, comentou o líder João Jaime.

O pensamento no ninho é o de que, com Ciro Gomes na jogada presidencial, a participação do PT na composição da chapa de Cid fica inviabilizada, pois os petistas precisam de palanque para alavancar a candidatura de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto. Nas pesquisas de intenção de voto, ela chega a ter menos da metade das citações de Serra.
Desta forma, o PSDB encontraria caminho livre para negociar reforço da base governista cearense à reeleição de Tasso. “O quadro nacional é o quadro nacional; o quadro estadual é o quadro estadual. Tem influência, mas não é o fator preponderante na posição do PSDB aqui”, avaliou Jaime, completado por Baquit: “mas é o desejo do governador receber o nosso apoio? Há um interesse dos deputados em ficar do lado dele. Mas, a recíproca é verdadeira?”.

O FATOR REPUBLICADO
No encontro, teve espaço até para quem não faz parte do tucanato. O prefeito de Maracanaú e auto-proclamado candidato a governador, Roberto Pessôa, também entrou em pauta. Ele pleiteia a ajuda do PSDB para bancar sua candidatura. Mas... “Não vi receptividade, com raríssimas exceções. Para não dizer uma ou duas exceções”, cortou Baquit.

Mesmo sem saber que caminho seguir, os tucanos rechaçam a hipótese de que a demora na deliberação de uma candidatura própria traga prejuízos à sigla. “Não existe angústia. O prejuízo é muito maior se a decisão for errada. Definição...acho que a gente só vai ter nos prazos eleitorais”, encerrou João Jaime, referindo-se à realização das convenções de divulgação dos nomes das chapas, previstas para junho.

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