Opinião

A imagem da Polícia Civil

Uma instituição só pode ser compreendida olhando-se para trás e só deve ser avaliada, a partir do conhecimento de sua história e dos valores que cultua. Infelizmente a Polícia Civil cearense tem tido sua imagem desgastada perante a opinião pública por uma avaliação equivocada de seu desempenho e da qualificação profissional de seus quadros, por desconhecimento dos relevantes serviços prestados à sociedade por muitos de seus integrantes.
Cumpre, pois, diante do atual cenário, relembrar um pouco de sua história e do prestígio que sempre desfrutou no Nordeste, por conta da eficiente atuação de seus policiais no trabalho de investigação e elucidação de delitos os mais complexos muitos dos quais de repercussão interestadual. Os anais da ADEPOL DO BRASIL e os arquivos do Ministério da Justiça registram, de igual modo, a contribuição dos delegados de polícia cearense seja na apresentação de temas relevantes abordando assuntos na área do processo penal, por isso que devidamente publicados, seja na participação em comissões ministeriais com vistas à elaboração de anteprojetos da Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis.
Registre-se, ademais, a preocupação com a formação e a capacitação de seus profissionais, por isso que sua Academia de Polícia foi criada há quase meio século, tendo integrado seu corpo docente figuras exponenciais do mundo jurídico, como o desembargador Stênio Leite Linhares, o criminalista Evaldo Ponte, o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, Eyorand Andrade, José de Araújo Barreto, Alencar Monteiro, Othon Sobral, além de professores convidados de outros Estados para lecionar disciplinas específicas, dentre os quais Coriolano Nogueira Cobra (SP) e Genival Veloso (PB).

O intercâmbio e a troca de experiências na área do ensino especializado era uma constante. A Universidade Estadual do Pará, por exemplo, recorreu aos quadros policiais do Ceará para a designação de delegado deste Estado para ministrar aulas em cursos de especialização, no nível de pós-graduação lato sensu para os delegados de polícia paraenses. Diga-se, por oportuno, que as primeiras turmas de delegados do Pará, do Rio Grande do Norte e do Amapá foram formadas por nossa APOC.
O que teria ocorrido, então, para, em tão curto espaço de tempo, ter esta instituição deixado de ser uma referência na região e ser apresentada à população como uma instituição ineficiente, despreparada, com policiais incapacitados para cumprir sua missão constitucional? Parece que uma densa nuvem apagou da memória de seus atuais dirigentes seus grandes feitos. Esqueceram, inclusive, de que na sua estrutura organizacional já existiram unidades como Delegacia de Homicídios e, até uma Delegacia de Homicídios de autoria desconhecida. Louve-se a recriação, em novas bases, destes órgãos e vinda de professores convidados para recapacitar os policiais que serão ali lotados, mas não olvidem o passado da instituição. É tempo de se cuidar da auto-estima dos profissionais que lá trabalham. Afinal, a motivação é o melhor combustível para o êxito da missão policial.

Lamentavelmente, assiste-se, passivamente, dia-a-dia, o desmonte da Polícia Civil cearense, para a tristeza de quantos a fizeram e a fazem. É lamentável que a nossa polícia judiciária não mais conte com seus institutos periciais os quais passaram a compor um novo órgão denominado Perícia Forense. O que resta, portanto, como atribuição da Polícia Civil estadual é, tão somente, a atividade de investigação, ainda assim, submetida a críticas contundentes sobre o trabalho dos profissionais encarregados dessa complexa e incompreendida missão.

Irapuan Diniz de Aguiar
Advogado e ex-Delegado de Polícia Civil

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