Missa para Alanis: alguns pediam paz; outros a morte

Por Ivna Girão
Da Redação do Jornal O Estado

Enquanto o padre conclamava o perdão e o amor divino, muitos dos presentes, ontem, na missa de 7o dia de morte da pequena Alanis Maria, 5, gritavam palavras de ordem, no pátio da Paróquia Nossa Senhora da Conceição exigindo a morte brutal do assassino: era o contraste entre a dor e a revolta de quem parece pedir por mais punição. “Estamos tentando acalmar nossos corações, mas está difícil, pois, foi aqui, nessa mesma casa de Deus, que a nossa Alanis foi levada para não voltar mais”, disse, representando a família da vítima, Betânia Silvia, tia da garota morta na última quinta-feira. Os moradores traziam nas centenas de blusas brancas, nas bandeirinhas e nas flores, demonstração de solidariedade aos familiares.
Incomodada com os gritos de “Uh! Uh! Vai morrer!”, a dona-de-casa Ana Alice entende a revolta do povo com o assassino da criança, mas sugere mais calma e reflexão do povo. “A família quer paz, essas atitudes chamam mais violência. Queremos segurança pública aqui no bairro”, pede Ana Alice. Com bandeirinhas expondo o semblante da pequena Alais e vestida de branco, a costureira Liliane Clemente, 21, estava rouca de tanta gritar por justiça e pelo extermínio do estuprador. “Eu estou muito revoltada. A morte do assassino não é solução agora, ele merece mesmo é sofrer, sofrer muito, até pagar por tudo que fez. Sei que esse nosso sentimento contrasta com o clima da missa, mas é só assim que conseguimos pedir paz”, disse a jovem, negligenciado a homilia do Padre Luis Alberto que, na celebração ontem à noite, pregava que o cristão não deve perder a confiança em Jesus. “A primeira justiça é a de Deus, isso deve confortar a família”.

GARANTIA DE DIREITOS
O clima era de pânico, revolta e dor. Preocupado com a segurança da filha pequena, Socorro Mendes – que não largava a mão da menina – afirmou que ontem mesmo outra criança parecia ter sumido do bairro Conjunto Ceará, como se tivesse sido raptada de modo semelhante à Alanis. “Estamos todos temerosos de que essa mesma violência atinja nossos filhos. Queremos mais segurança, mais policiamento e que os estupradores morram na cadeia”, disse Socorro Mendes. Comentando que amanhã conselheiros tutelares terão uma reunião para discutir o modelo atual de proteção à infância, o presidente da Associação dos Conselheiros Tutelares do Ceará, Eulogio Neto, disse que apesar da revolta de todos a morte da Alanis não deve semear ódio e violência, mas sim reflexão. “Temos que aproveitar toda essa mobilização social aqui no Conjunto Ceará para exigir direitos e mais abrigo aos nossos meninos e meninas”, finalizou.

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