Jurema:emancipação vira sonho por nova realidade




Do JORNAL O ESTADO

Bruno de Castro
Francisca Justino (56) mora no distrito de Jurema há 38 anos. Nessas quase quatro décadas, já ouviu de tudo sobre o passado da localidade anexada ao município de Caucaia. Também viu muita gente fazer previsões sobre o futuro da região. Entra prefeito, sai prefeito, entra vereador, sai vereador, o discurso é sempre o mesmo: vamos melhorar isso, vamos construir aquilo, vamos entregar aquilo outro.
Na ponta do lápis, porém, pouco foi feito. E a justificativa das administrações segue o mesmo traço: são muitas as cidades gerenciadas por um único Executivo, o que dificulta a repartição do bolo orçamentário de forma justa. Além de Jurema, a Prefeitura de Caucaia gerencia outros seis distritos: Bom Princípio, Catuana, Guararu, Mirambê, Sítios Novos e Tucunduba.

Agora, Dona Francisquinha - como prefere ser chamada - e os demais 154 mil habitantes da Jurema vivem a expectativa de desmembrarem-se desse conglomerado. A região é cotada para ganhar o status de “emancipada”, por conta de um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa em 2 de dezembro último. A proposta de transformar distritos cearenses em municípios foi acatada por 27 dos 29 deputados presentes à votação.

Tornada município, Jurema passaria a ser autogestora de suas políticas públicas. À primeira vista, a localidade segue os critérios estipulados na lei de alteração de perfil: tem mais de oito mil moradores, um eleitorado superior a 40% da população e um centro urbano constituído por prédios comerciais, residenciais e públicos. “Acho que vai ser boa essa mudança, porque o dinheiro [arrecadação de impostos] daqui vai ficar aqui”, diz Dona Francisquinha, entre os gritos dos feirantes amontoados em barracas alocadas ao lado do trilho que corta a avenida Dom Lustosa - um dos principais corredores comerciais do distrito.

REIVINDICAÇÕES
Assim como a aposentada, outros moradores da Jurema sonham com a titularidade municipalista. Eles acreditam que, enfim, projetos estruturantes sairão do papel quando tiverem sua própria Prefeitura e Câmara de Vereadores.
É o caso da vendedora de roupas Maria Célia Avelino. Há 18 anos trabalhando na feira, ela critica, principalmente, a falta de estrutura na saúde. Mãe de quatro crianças, traz na bagagem episódios dramáticos em decorrência da escassa oferta de serviços de atendimento médico. Conforme atesta, culpa do subjulgamento de Jurema a Caucaia.
Com um dos filhos febril e queixando-se de dores no corpo, Maria Célia procurou um posto de saúde do Conjunto Ceará - bairro de Fortaleza. Chegando lá... “Me mandaram voltar. Negaram atendimento a uma criança especial dizendo que era porque eu morava na Jurema. Não quiseram nem saber que o posto daqui não tinha remédio. Em outra vez, ele teve convulsão. Só me receberam lá porque eu consegui um encaminhamento aqui”, recorda.
Caso a emancipação efetive-se, o Executivo fica obrigado a montar uma rede médica especializada. Mas, para além do estreitamento de laços entre políticos e população, e das melhorias na saúde, a condição de município obriga a oferta do serviço de correios, existência de postos de combustíveis, escolas de educação infantil e fundamental, estações de fornecimento de energia elétrica e água, coleta de esgoto, telefonia e delegacias de polícia. Na Jurema, alguns desses equipamentos até existem. Contudo, não funcionam a contento. Outra permissionária da feira, Antônia Pereira vende legumes há 13 anos e também reivindica a emancipação do distrito.

Para ela, essa seria uma maneira de dar o mínimo de condição para as unidades de saúde funcionarem a contento, privando os moradores de situações como a vivida por Maria Célia Avelino. “No posto, não tem nada. Precisamos de um prefeito. Mas é um prefeito de verdade! Porque se for pra botar um que fique no gabinete sem fazer porcaria nenhuma, nem adianta”, desabafa.

RECEIO
Mesmo tendo os pré-requisitos para emancipar-se, Jurema só é elevada se o resultado de um plebiscito a ser realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apontar aceitação popular à nova condição. Um capítulo de história já vivido por muitos do ainda distrito. “Em 92 ou 94, teve um grande movimento aqui para emancipar. Mas, quando se falava nessa consulta popular aí, o povo de Caucaia tratava de oferecer piquenique pra todo mundo. Alugavam até ônibus pra levar o povo. Tudo de graça”, denuncia o vendedor João Bezerra, permissionário da feira há 20 anos.
Diante da nova possibilidade de crescimento, ele alimenta as mesmas expectativas do universitário David Barroso (22). O jovem espera que, desta vez, as lideranças comunitárias e políticas enxerguem os reflexos da emancipação na melhoria da qualidade de vida da população e não protagonizem cenas como as narradas pelo vendedor.
O estudante de Filosofia reclama ainda das poucas oportunidades de emprego, problema que poderia ser solucionado com a emancipação. “Porque iam ter investimentos aqui. E investimento atrai empresa, que gera vaga de trabalho e fluxo financeiro. Hoje, somos atrasados, porque a Prefeitura se limita a investir em Caucaia. Estamos esquecidos e a transformação em município é fundamental. Com uma Prefeitura aqui, a gente vai poder cobrar e fiscalizar tudo mais de perto”, diagnostica.

2 comentários:

  1. Mau Caro Macario,

    Sou empresario da Jurema, onde tenho uma industria de cosmeticos com 200 empregados (Cigel-Alyne Cosmeticos), desde que aqui cheguei no ano 1999 que aspiro a emancipação desse pedaço esquecido de Caucaia, pois aqui plentei raizes faço trabalhos sociais na comunidades do Potira I, II, e III alem da Jurema, em retribuição ao acolhimento que essa comunidade tão hospitaleira dedicou minha empresa. Sou um intusiasta, luto pela emancipação da Jurema e apoio naquilo que for preciso.

    Paulo Gurgel
    paulo@cigel.com.br

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  2. Senhores, moro na Jurema a 26 anos, sou artista popular, trabalho com dança e música em grupos parafolcloricos do distrito, e como sempre digo o artista tem um poder critico muito elevado, por ser um eterno lutador pelos seus direitos. Sobre a emancipação da nossa amada Jurema só o que tenho a dizer é que, pelo amor de Deus, façam isso com toda a boa vontade para ajudar ao nosso tão denegrido povo e não para conseguirem seus "pés-de-meias" em futuros cargos publicos que viram a existir. Sei que o povo votara pelo sim, mas infelizmente a injenuidade da nossa comunidade ainda é tamanha, comparada também ao mal carater de meia duzia de aproveitadores que só vêem esse pleito com os olhos da ganância. Sempre declarei meu amor pela grande Jurema e esta na hora dela também nos amar.

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