Bom dia


Começar de novo
Certo dia, jantando no La Coupolle, à mesa onde Sartre toda noite tomava sua sopinha de cebola com a Simone de Bovuá, pensei que estava passando pro lado negro da força. Imaginei que estava entregando a alma, na verdade, pensei que estava vendendo a integridade dos meus sonhos por um punhado de baboseiras, tipo cama, mesa e banho. E decidi que aquilo não passava da magia de Paris, encantando o ser e o não ser, aquele mesmo tu bi or noti tu bi do Cheiquispire. Não era eu que pensava em mim, mas eu pensando nas pessoas que se entregam em corpo, alma e divindade por tara ou por sobrevivência. E até temi encarar gente assim, ter gente assim a meu lado, sem a dignidade do não, se desintegrando no átomo de prótons e elétrons. Acho que ce não entendeu nada. Nadica de nada. Nem eu porque perdi meu tempo pensando nisso. Começar de novo na simples virada da página do calendário talvez seja a solução. Apenas não se venda a mais um, a mais um, a mais um. Os anos apenas passam, como a gente passa a quem, talvez, possa até se interessar pelo que não somos. Você sifu, se continuar agindo assim. Um monte de carne flácida esparramada por lençóis que jamais serão seus. A carne flácida que passou como o ano que terminou e que não estará neste novo. Isto é política. Política de vida, arte e sonhos que se desfazem. E em política, o diabo veste Prada.

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